sexta-feira, 9 de novembro de 2012

HISTORIA DO TANGO - TEMA: A MULHER / OS ANOS DOURADOS DO TANGO


A MULHER - TEMA INVARIÁVEL

Desde o surgimento da letra para o tango em “Mi Noche triste”, ele tornou-se essencialmente uma canção de amor. Ela, a mulher, se constitui em tema invariável; assume o papel de protagonista de todas as mágoas dos poetas tangueiros. No tango, ela resulta em toda a panaceia universal, mitigando a angústia, a solidão e a tristeza que o homem deve passar na terra. A teoria tem sua melhor prova em centenas de letras dos mais brilhantes autores:

ALFREDO LE PERA – “ Arrabal Amargo” – con ella a mi lado, no vi tus tristezas, tu barro y miséria.
Cuesta abajo” – era para mi la vida entera, como un sol de primavera, mi esperanza y mi pasión…
El Dia que me quieras” -  como ríe la vida, si tus ojos negros, me quieren mirar…
JOSÉ MARÍA CONTURSI – “Gricel” – no debi pensar jamás, en lograr tu corazón, y sin embargo te busqué…
CATULO CASTILLO:  “Una canción”  - la dura desventura de los dos, nos lleva al mismo rumbo sempre igual.
F. GARCIA JIMENEZ – “Alma en pena” – Ella sí que me olvidó, y hoy frente a su puerta….
ENRIQUE SANTOS DISCÉPOLO – “UNO”  pero Dios te trajo a mis destino, sin sabe que ya es muy tarde.
CELEDONIO FLORES: “Mano a Mano” – tu presencia de bacana, puso calor en nido, fuiste buena, consecuente….
E tantos outros….

O tango passou por muitos outros temas com maior ou menor qualidade, mas sempre vinculados aos problemas metafísicos, sentimentais ou econômicos dos que, necessitados ou não compunham o setor baixo da população.


AS FASES DE OURO DO TANGO

Os pesquisadores do gênero identificam duas fases de ouro do tango,a primeira nos anos 20 , quando várias figuras do ambiente artístico de Buenos Aires e Montevidéu , inclusive muitos literatos como José Gonzalez Castillo e Fernán Silva Valdez canalizassem seus esforços no fomento da música popular Rio-Platense,e em especial do tango.
Nos anos 20, cantores como Carlos Gardel, Ignacio Corsini e Agustín Magaldi, e cantoras como Rosita QuirogaAzucena Maizani, venderam muitos discos na florescente indústria discográfica argentina e difundiram o tango para fora da Argentina.
O fim da década de 30 incorpora uma camada de talentosos músicos, compositores, e instrumentistas, quase todos diretores de orquestras, alguns dos quais procedem dos conjuntos mais famosos dos anos 20: Elvino Vardaro ( violino) do grupo de Piazzolla e dos “ Astros del tango”, do qual também fazem parte Enrico Mario Francini, Simón Bayur ( violinos), Julio Ahumada (bandoneón), Jaime Gosis ( piano), José Bragato (violoncelo), Mario Lelli  (viola) e Rafael del Bagno ou Tito Colom, (contrabaixo) com direção e arranjos orquestrais de Argentino Galván.
Do famoso sexteto de Vardaro, do qual não restou nenhum registro em disco, participava Anibal Troilo ( bandoneón) e mais tarde: Orlando Goñi, José Basso e Osvaldo Berlingieri   (pianos), Hugo Baralis ( violino) e Astor Piazzola ( bandoneón). E tantos outros como Leopoldo Frederico, Juan D’Arienzo, Roberto Firpo, Domingo Federico, Alfredo Gobbi ( filho do célebre Gobbi, que em 1906 levou o tango a Paris, com Angel Villoldo).
Graças à obra desses notáveis músicos, o tango alcança, na década de 40, uma de suas etapas mais produtivas e felizes. Não só pela qualidade dos criadores, mas também porque o panorama se completa com outros extraordinários compositores: Troilo, Mariano Mores (ex-pianista de Francisco Canaro), Sebastián Piana, que junto com Maffia, Laurenz, Marcucci e Ciriaco Ortiz, compõem o popular quintento Los Ases de Pebeco.
Os anos 40 são também definitivos para o florescimento dos mais destacados letristas do tango: José González Castilho, Alberto Vacarezza, Roberto Cayol, Samuel Lining, Enrique Dizeo, e muitos outros....
O tango também iniciou uma crítica social, especialmente com Discépolo e Celedonio Flores, em títulos como “Pan”, “Sentencia”, “ Cambalache”,  “ Al pie de la San Cruz”.
Dentro dessa extensa produção poética, marcada pelo tema e essência da alma sentimental do Rio da Prata, destacamos os versos que Discépolo escreveu em 1940 para a música “ EL CHOCLO” de Villoldo, porque eles constituem  uma síntese histórica do tango, e um canto de amor à sua mensagem de comunicação e identificação cultura com o homem argentino:

Con este tango que es burlón y compadrito
Se ató dos alas la ambición de mi suburbio
Con este tango nació el tango, y como un grito
Salió  del sórdido barrial buscando el cielo
Conjuro extraño de un amor hecho cadencia
Que abrió caminos sin más ley que la esperanza
Mezcla de rabia, de dolor, de fe, de ausencia,
Llorando en la inocencia de un ritmo juguetón.
Por tu milagro de notas agoreras
Nacieron sin pensarlo las paicas y las grelas,
Luna de charcos, canyengue en las caderas,
Y una ansia fiera en la manera de querer…
Al evocarte, tango querido…
Siento que tiemblan las baldosas de un bailongo
Y oigo el rezongo de mi pasado.
Hoy que no tengo más a mi madre,
Siento que llega en punta de pie para besarme
Cuando tu canto nace al son de un bandoneón…
Carancanfunfa se hizo al mar con tu bandera
Y en un pernod mezcló Paris con Puente Alsina.
Fuiste compadre del gavión y de la mina,
Y hasta comadre del bacán y la pebeta
Por vos susheta, cana, reo y mishiadura,
Se hicieron voces al nacer con tu destino,
Misa de faldas, kerosén, tajo e cuchillo,
Que ardió en los conventillos y ardió en mi corazón.

Dois nomes ainda se destacam pela extraordinária influência que exerceram sobre a história do tango, pela segurança e garra de sua melodia estritamente milongueiraANÍBAL “PICHUCO” TROILO e CARLOS DI SARLI.
Horacio Ferrer, eminente estudioso e ensaísta do tango, diz: “Troilo é a cara de seu povo”. Portenho, nascido em Abasto, crescido na esquina de Soler com Gallo, erguia seu solo como um cálice no domínio de suas mãos. Único, sim, com esse bandoneón que aprendeu a tocar à força de puro instinto, Com um som de primeira e uma garra daquelas, tirando das botoneiras um estilo onde se confundem  inesperadamente as frases viscerais de Ciriaco Ortiz, a densidade introvertida, característica de Pedro Maffia,  a bronca arrabalera que define o fraseio de Pedro Laurenz, e afastando-se de todas as influências, este estilo inteligente do gordo Troilo rechaça toda relação de parentesco, e nasce para fundador de dinastias”.
Em relação a Di Sarli, Ferrer assim o descreve:”teve na sua natureza de instrumentista genuinamente criador, o milonguero por excelência, em tudo quanto de domínio criollo e de valores intrínsecos do tango este conceito encerra. Foi um artista de poderosa força interpretativa. Concentrava-se ao piano sob o manto da pesada solidão que o envolvia, pondo-o às vezes dentro de uma redoma de aparente tristeza e introversão. A fecunda criatividade de sua mão esquerda foi reconhecida pelo domínio, sensível e raro, com que criou uma forma de dizer, de acentuar, de modular, de rellenar e bordonear sua música”.
Os anos 40 marcam a segunda época de ouro do tango , quando novos valores do tango como Aníbal Troilo , Astor Piazzolla, Armando Pontier se juntam a nomes consagrados como Francisco Canaro Carlos di Sarli, isso sem contar o fenômeno de popularidade que foi a típica de Juan D'Arienzo.
Os profissionais que haviam começado nas orquestras dos cabarés de luxo da década de 1920 estavam no auge de seu potencial. Nessa época as letras do tango passaram a ser mais líricas e sentimentais. A antiga temática dos bordéis e cabarés, de violência e obscenidades, era uma mera reminiscência. A fórmula ultra-romântica passa a caracterizar as letras: a chuva, a garoa, o céu, a tristeza do grande amor perdido. Muitos letristas eram poetas de renome e com sólida formação cultural.

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