A MULHER - TEMA INVARIÁVEL
Desde o surgimento da letra para o tango em “Mi Noche triste”, ele tornou-se
essencialmente uma canção de amor. Ela, a mulher, se constitui em tema
invariável; assume o papel de protagonista de todas as mágoas dos poetas
tangueiros. No tango, ela resulta em toda a panaceia universal, mitigando a
angústia, a solidão e a tristeza que o homem deve passar na terra. A teoria tem
sua melhor prova em centenas de letras dos mais brilhantes autores:
ALFREDO LE PERA – “ Arrabal Amargo” – con ella a mi
lado, no vi tus tristezas, tu barro y miséria.
“ Cuesta abajo” – era para mi la vida
entera, como un sol de primavera, mi esperanza y mi pasión…
“ El Dia que me quieras” - como ríe la vida, si tus ojos negros, me
quieren mirar…
JOSÉ MARÍA CONTURSI – “Gricel” – no debi pensar jamás, en
lograr tu corazón, y sin embargo te busqué…
CATULO CASTILLO: “Una
canción” - la dura desventura de los
dos, nos lleva al mismo rumbo sempre igual.
F. GARCIA JIMENEZ – “Alma en pena” – Ella sí que me
olvidó, y hoy frente a su puerta….
ENRIQUE SANTOS DISCÉPOLO – “UNO” pero Dios te trajo a mis destino, sin sabe
que ya es muy tarde.
CELEDONIO FLORES: “Mano a Mano” – tu presencia de
bacana, puso calor en nido, fuiste buena, consecuente….
E tantos outros….
O tango
passou por muitos outros temas com maior ou menor qualidade, mas sempre
vinculados aos problemas metafísicos, sentimentais ou econômicos dos que,
necessitados ou não compunham o setor baixo da população.
AS FASES DE OURO DO TANGO
Os pesquisadores do gênero identificam duas fases de ouro do tango,a
primeira nos anos 20 , quando várias figuras do ambiente artístico de Buenos
Aires e Montevidéu , inclusive muitos literatos como José Gonzalez Castillo e Fernán Silva Valdez canalizassem seus
esforços no fomento da música popular Rio-Platense,e em especial do tango.
Nos anos 20, cantores como Carlos Gardel, Ignacio Corsini e Agustín Magaldi, e cantoras como Rosita
Quiroga e Azucena Maizani, venderam muitos discos na
florescente indústria discográfica argentina e difundiram o tango para fora da
Argentina.
O fim da década de 30 incorpora uma camada de talentosos músicos,
compositores, e instrumentistas, quase todos diretores de orquestras, alguns
dos quais procedem dos conjuntos mais famosos dos anos 20: Elvino Vardaro ( violino)
do grupo de Piazzolla e dos “ Astros del tango”, do qual também fazem parte
Enrico
Mario Francini, Simón Bayur ( violinos), Julio
Ahumada (bandoneón), Jaime Gosis ( piano), José
Bragato (violoncelo), Mario Lelli (viola) e Rafael del Bagno ou
Tito Colom, (contrabaixo) com direção e arranjos orquestrais de Argentino
Galván.
Do famoso sexteto de Vardaro,
do qual não restou nenhum registro em disco, participava Anibal Troilo (
bandoneón) e mais tarde: Orlando Goñi, José Basso e
Osvaldo Berlingieri (pianos), Hugo
Baralis ( violino) e Astor Piazzola ( bandoneón). E
tantos outros como Leopoldo Frederico, Juan D’Arienzo, Roberto Firpo, Domingo Federico, Alfredo Gobbi
( filho do célebre Gobbi, que em
1906 levou o tango a Paris, com Angel
Villoldo).
Graças à obra desses notáveis
músicos, o tango alcança, na década de 40, uma de suas etapas mais produtivas e
felizes. Não só pela qualidade dos criadores, mas também porque o panorama se
completa com outros extraordinários compositores: Troilo, Mariano Mores (ex-pianista de Francisco Canaro), Sebastián Piana, que junto com Maffia,
Laurenz, Marcucci e Ciriaco Ortiz, compõem o popular quintento Los
Ases de Pebeco.
Os anos 40 são também
definitivos para o florescimento dos mais destacados letristas do tango: José
González Castilho, Alberto Vacarezza, Roberto Cayol, Samuel Lining, Enrique
Dizeo, e muitos outros....
O tango também iniciou uma
crítica social, especialmente com Discépolo e Celedonio Flores, em
títulos como “Pan”, “Sentencia”, “ Cambalache”, “ Al
pie de la San Cruz”.
Dentro dessa extensa produção
poética, marcada pelo tema e essência da alma sentimental do Rio da Prata,
destacamos os versos que Discépolo escreveu em 1940 para a
música “ EL CHOCLO” de Villoldo, porque eles
constituem uma síntese histórica do
tango, e um canto de amor à sua mensagem de comunicação e identificação cultura
com o homem argentino:
Con este tango que es burlón y compadrito
Se ató dos alas la ambición
de mi suburbio
Con este tango nació el
tango, y como un grito
Salió del sórdido barrial buscando el cielo
Conjuro extraño de un amor
hecho cadencia
Que abrió caminos sin más
ley que la esperanza
Mezcla de rabia, de dolor,
de fe, de ausencia,
Llorando en la inocencia de
un ritmo juguetón.
Por tu milagro de notas
agoreras
Nacieron sin pensarlo las
paicas y las grelas,
Luna de charcos, canyengue
en las caderas,
Y una ansia fiera en la
manera de querer…
Al evocarte, tango querido…
Siento que tiemblan las
baldosas de un bailongo
Y oigo el rezongo de mi
pasado.
Hoy que no tengo más a mi
madre,
Siento que llega en punta
de pie para besarme
Cuando tu canto nace al son
de un bandoneón…
Carancanfunfa se hizo al
mar con tu bandera
Y en un pernod mezcló Paris
con Puente Alsina.
Fuiste compadre del gavión
y de la mina,
Y hasta comadre del bacán y
la pebeta
Por vos susheta, cana, reo
y mishiadura,
Se hicieron voces al nacer
con tu destino,
Misa de faldas, kerosén,
tajo e cuchillo,
Que ardió en los conventillos
y ardió en mi corazón.
Dois nomes ainda
se destacam pela extraordinária influência que exerceram sobre a história do
tango, pela segurança e garra de sua melodia estritamente milongueira: ANÍBAL “PICHUCO” TROILO e CARLOS DI SARLI.
Horacio Ferrer, eminente
estudioso e ensaísta do tango, diz: “Troilo
é a cara de seu povo”. Portenho, nascido em Abasto, crescido na esquina de
Soler com Gallo, erguia seu solo como um cálice no domínio de suas mãos. Único,
sim, com esse bandoneón que aprendeu a tocar à força de puro instinto, Com um
som de primeira e uma garra daquelas, tirando das botoneiras um estilo onde se
confundem inesperadamente as frases
viscerais de Ciriaco Ortiz, a
densidade introvertida, característica de Pedro Maffia, a bronca
arrabalera que define o fraseio de Pedro Laurenz, e afastando-se de todas
as influências, este estilo inteligente do gordo Troilo rechaça toda relação de parentesco, e nasce para fundador de
dinastias”.
Em relação a Di
Sarli, Ferrer assim o
descreve:”teve na sua natureza de instrumentista genuinamente criador, o milonguero por excelência, em tudo quanto
de domínio criollo e de valores
intrínsecos do tango este conceito encerra. Foi um artista de poderosa força
interpretativa. Concentrava-se ao piano sob o manto da pesada solidão que o
envolvia, pondo-o às vezes dentro de uma redoma de aparente tristeza e
introversão. A fecunda criatividade de sua mão esquerda foi reconhecida pelo
domínio, sensível e raro, com que criou uma forma de dizer, de acentuar, de modular,
de rellenar e bordonear sua música”.
Os anos 40 marcam a segunda
época de ouro do tango , quando novos valores do tango como Aníbal Troilo , Astor Piazzolla,
Armando Pontier se juntam a nomes consagrados como Francisco Canaro e Carlos di Sarli, isso sem contar o fenômeno
de popularidade que foi a típica de Juan D'Arienzo.
Os profissionais
que haviam começado nas orquestras dos cabarés de luxo da década de 1920
estavam no auge de seu potencial. Nessa época as letras do tango passaram a ser
mais líricas e sentimentais. A antiga temática dos bordéis e cabarés, de
violência e obscenidades, era uma mera reminiscência. A fórmula ultra-romântica
passa a caracterizar as letras: a chuva, a garoa, o céu, a tristeza do grande
amor perdido. Muitos letristas eram poetas de renome e com sólida formação
cultural.
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