Por muito tempo Paraná e Santa Catarina foram apenas o caminho de passagem do centro do Brasil para o Sul.
Embora Santa Catarina tenha sido palco de luta entre os índios carijó, aliados dos espanhóis e os portugueses, os espanhóis se sentiam donos do território de acordo com o Tratado de Tordesilhas. Mas os portugueses, na sua sabedoria povoadora, colocaram os colonos vindos dos Açores e da Madeira na ilha de Santa Catarina e em outros pontos do litoral. O povoamento desta região partiu também de São Paulo. Os paulistas de São Vicente fundaram São Francisco, Santa Catarina, Nossa Senhora do Desterro, Laguna.
Os colonos imigrantes chegaram a partir do século XIX, alemães, portugueses, poloneses e espanhóis, italianos, destinados à colonização do Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul. O governo promoveu a imigração subvencionada, ou seja, o imigrante e sua família recebiam passagem de navio até o Brasil e o transporte terrestre até onde deveriam se estabelecer. Após alguns anos, começaram a surgir na Europa, denúncias sobre as privações sofridas pelos primeiros imigrantes no Brasil. A partir de 1902, Alemanha e Itália, após as denúncias recebidas, proibiram a imigração sub-vencionada. O Estado de Santa Catarina recebeu além dos imigrantes supracitados, imigrantes noruegueses, suecos, dinamarqueses, austríacos, poloneses, suíços, belgas, gregos, turcos, ucranianos, russos, que ajudaram a construir o estado catarinense.
Paranaguá foi um porto de mar importante, Curitiba viveu muito tempo em dependência dele. Um dia, uma nova estrada deu a Curitiba o cetro de capital, desligando-a de Paranaguá; deixou também de ser uma página da história paulista, conquistando por si mesma a liderança. Curitiba foi além do Tratado de Tordesilhas, fixando-se como uma das grandes capital Brasileiras.
O povoamento do Paraná e Sta. Catarina foi diferente dos demais: ausentes os índios e africanos; presentes os portugueses, cuja cultura deixou sua marca nos usos e costumes e no linguajar cantado dos paranaenses e catarinenses. Entretanto, ambos os estados receberam mais tarde larga influência dos colonos italianos e alemães, e menor dos poloneses, húngaros, ucranianos, russos, irlandeses, escoceses, holandeses, japoneses, etc.
Os imigrantes se adaptaram facilmente ao clima subtropical da região e muito contribuíram na cultura vinhateira, na triticultura (cultura do trigo), linho, algodão, cânhamo e mandioca. A mata de araucária, pinheirais, constitui uma das riquezas desses Estados.
A partir de 1932, o café em Londrina (Paraná) acarretou a industrialização do Estado, produzindo 50% do total do Brasil. De Santa Catarina, com seus tecidos, cerâmica fina, carnes, vem o carvão de pedra de Crisciúma, Araranguá, Uruçanga, pelo porto de Tubarão, para forjar o aço do progresso do Brasil.
Planta nativa do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, a princípio era tido pelos padres como uma erva maldita. Entre os pinheirais encontram-se também árvores onde o ervateiro colhe as folhas. Perto dos ranchos preparam os jiraus ou carijós (espécie de mesa feita de varas, para receber calor por baixo). A erva depois é de triturada, peneirada e coada. Em seguida é ensacada e segue o seu destino; certamente acaba na cuia e com uma bomba de prata e uma chaleira de água fervente, torna-se o delicioso chimarrão, complemento indispensável de um bom churrasco.
DANÇAS TRADICIONAIS DE SANTA CATARINA E PARANÁ
Diferentes ritmos e influências compõem as danças típicas paranaenses, as batidas do fandango no litoral, a homenagem do patrono da comunidade negra na Lapa e o colorido do Pau-de-Fitas são alguns exemplos.
DANÇA-DE-FITAS
A dança de fitas é uma tradição milenar; é uma dança ariana antiquíssima, uma dança pagã, de árvore de maio, da arqueocivilização europeia.
Um pau-de-fita, cujo mastro é sustentado no centro da dança por um menino. Da ponta do mastro saem pares de fitas que são seguradas por oito ou doze meninas ou meninos para começar a dança que é realizada dentro de salas ou salões sob a direção do guião, que os comanda no dançar bem como os autoriza a “assaltar”.
A música que acompanha é, em geral, tocada por sanfonas, violões e pandeiros.
Embora seja praticada por ocasião das festas natalinas é uma dança ritualística do passado, rememorando o renascimento da árvore. Os cantos tradicionais são loas em louvor da natividade. Executam as figurações segurando a ponta das suas fitas, dançando rimadamente; trançam e destrançam as fitas em torno do mastro central.
Em Santa Catarina, antes da dança-de-fitas, executam a dança da jardineira, em que os pares de dançadores conduzem um arco enfeitado de flores, fazendo diversas figurações com os arcos.
DANÇA DO VILÃO
As danças brasileiras devido as grandes distâncias da nossa terra recebem denominações diferentes nas diversas regiões, e a finalidade das danças também varia.
Antigamente em Santos (Estado de São Paulo) dançava-se, pelo Carnaval, o Vilão tal qual se realiza ainda hoje em Santa Catarina, em São Francisco. Noutras cidades praianas, o Vilão é dançado nas festas natalinas.
Em são Francisco, o Vilão é dançado por ocasião do Carnaval, à noite, quando mais de trinta dançadores se exibem: porta-estandarte, os batedores, os balizadores, os músicos. Fantasiados, usando bastões de dois metros de comprimento, saem pelas ruas e praças fazendo suas evoluções com a música profana e buliçosa. No Vilão o estandarte tem as cores do grupo, é profano.
As figurações do Vilão, o bater dos bastões, se assemelham ao Moçambique paulista, ao maculelê baiano, à tapuiada goiana. Todas estas danças têm uma raiz comum – a dança dos mouros; é a mesmíssima “morris dance”, dançada na Inglaterra, e que em Portugal é a dos pauliteiros de Miranda. São danças guerreiras das priscas eras da humanidade e que se revestem de roupa nova, de nova fantasia, alegrando, no presente, dançadores e assistentes.
DANÇA DE SÃO GONÇALO
Originária de Portugal, a dança de São Gonçalo é praticada em alguns locais do interior o Paraná, com registros também na Ilha dos Valadares.
A cerimonia que envolve reza e procissão acontece em torno da imagem do Santo. A dança, acompanhada de músicas de viola é dividida em partes chamadas de "voltas". No Paraná essas "voltas" têm nomes especiais como 'marcapasso', 'parafuso', 'despontam', 'confissão' e 'casamento.
BALAINHA
RECOMENDA DAS ALMAS
RITOS
É a forma popular da encomenda dos defuntos. É um trabalho que o povo faz em lugar de um agente oficial da religião, o padre. É um ato religioso que dá grande conforto espiritual aos que vivem na roça. Os seus executantes são “os recomendadores”.
Um bando de homens sai, por ocasião da quaresma até a Semana Santa, todas as quartas e sextas-feiras, à noite para a “ Recomenda das Almas”. Usam roupas comuns e alguns colocam mantos ou cobertores na cabeça. Um deles carrega um cacete para evitar os cães-vigias e também para bater na porta das casas, pedindo silêncio. Em alguns lugares, os recomendadores levam berra-boi, sacarraia, ou mesmo matraca. Quando se aproximam de uma casa, cantam sem acompanhamento de instrumentos musicais, o “pé da chegada”:
Quando nesta casa eu chego
Toda imagem se alegra
Deus te salve casa santa
E toda gente que está nela
Rezam um Pai Nosso e uma Ave Maria. Percorrem várias casas e fazem questão que o número de casas seja impar. O fogo dentro das casas deve estar sempre apagado. Em muitas janelas estão colocados café e comidas para os “recomendadores”.
Rezemos outro Padre-Nosso
Rezemos alegres e contentes
Padre Nosso, Ave-Maria
Pelas almas dos penitentes
BOI-DE-MAMÃO
Seria
o boi-de-mamão ou o boi-de-pano catarinense uma figura desgarrada das touradas
ou uma forma do bumba-meu-boi?
Os
jesuítas lançaram mão do teatro religiosos popular para catequisar “as gentes
do Brasil”. Dois pontos principais deviam ser ensinados: a conversão e a
ressureição.
A
conversão envolve uma filosofia religiosa. Mas a ressureição é mais fácil, mais
popular, está presente na civilização tradicional, na ressureição do vegetal,
vivendo portanto no subconsciente coletivo.
No bumba-meu-boi, no boi-de-mamão o argumento fundamental é a
ressureição. O Boi-de-mamão vai do natal ao carnaval. Começa com as prendas e
pedidos de ajuda e termina com a morte e ressureição do boi.
São
muitos os personagens: Mateus, vaqueiro, cabrinhas, cavalinhos, médicos,
cantadores, tocadores e a bernuncia – animal descomunal, síntese de vários
monstros que habitaram a mente medieval e chegou até nós. Tem algo de bicho-papão que habita a
imaginação infantil. As crianças passaram a brincar de bernúncia e com um
grande saco de aniagem fazem de conta que engolem as outras, sem medo.
MORENA, MORENA - INEZITA BARROSO - FOLCLORE RECOLHIDO NO PARANÁ
FONTE: Histórias, Costumes e Lendas
Editora Três - 1987
IMAGENS: Google
VÍDEO: Youtube
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