O
Estado de Goiás foi penetrado por mais de duas dezenas de bandeiras à procura
de índios e de ouro. Bartolomeu Bueno da Silva,
o velho Anhanguera, alcançou o sertões de Goiás em 1682. Os monçoeiros paulistas, continuadores dos
bandeirantes se fixaram no interior do Estado, sempre a procura de ouro. Surge
uma verdadeira “febre do ouro” e multidões se instalam neste território. Hoje,
no Brasil Central, ao lado do garimpeiro que procura pedras, ouro e outros
metais preciosos, encontramos diversas tribos de índios. Na foz do Rio
Araguaia, na ilha do Bananal e nas margens do rio Tapirapé, vivem os índios carajá e tapirapé.
A
marcha para o Oeste brasileiro trouxe em consequência o povoamento de Mato
Grosso e Goiás. Os monçoeiros (continuadores
dos bandeirantes) levavam a família, visando a fixação, criando novas vilas e
cidades. Desciam o rio Tietê, o Paraná, passavam por varadouros (lugar baixo
de pouca água), empurrando o batelão, alcançando outros rios.
Um
dia eis os monçoeiros em Mato Grosso e Goiás, caminhando por entre montanhas,
serras, campos, cerrados enfeitados com palmeiras, buritis, indaiás. Árvores
como o pequi nativo, de fruto gostoso.
É
fundada a Vila Boa de Goiás pelos
caipiras paulistas. No sudoeste goiano a presença do notável Bartolomeu Bueno
da Silva, o Velho, mais conhecido por Anhanguera, que colocou fogo no álcool,
que os índios tapirapés não conheciam, e assim, pensaram ser água, daí temerem
que o velho incendiasse os rios e os dizimasse. E assim, Anhanguera conseguiu
dos índios o que quis.
O
teatro que nasceu dentro das igrejas teve um papel importante, foi
empregado pelos catequistas que chegaram a aprende a língua dos índios para
nela escreverem os autos, pequenas peças de teatro que deveriam ser representadas
na língua da gente da nova terra.
Os
autos populares tinham a finalidade religiosa e não apenas o
curumim, o mameluco ou o escravo, precisava ser assistido, mas também o próprio povoador português. Os
dramas, as representações ensinavam a tese da ressurreição, através do
Bumba-meu-Boi e a conversão aparece no batismo do Mouro ou Congo nas Congadas,
nas lutas de Cristãos e Mouros.
Para
os donos das terras, os fazendeiros, o catequista usou a Cavalhada – a luta
entre Cristãos e mouros, dramatizada com grande gala. Cada grupo procurava fazer trajes mais ricos
do que o dos outros e as cores fundamentais tinham que ser respeitadas: para os
Cristãos , o branco e o azul, a cor do céu, da pureza, do perdão. Para os
Mouros, o vermelho, o verde , a cor das chamas do inferno, das amarguras. Até nas próprias espadas há um simbolismo: os
Cristãos, com espadas retas – da retidão, da justiça. Os Mouros , com espadas
curvas, dos maus, dos sicários. Na Cavalhada repetem a tese da conversão onde o
Bem e o Mal lutam. A vitória final é do Bem.
A festa de Anarcan, é praticada entre os índios carajás e é uma luta de braços que dura o dia inteiro.O vencedor da disputa é aquele que consegue derrubar o maior número de lutadores. Ao visitar uma tribo, os moços lançam o desafio e através de gritos de saudação tem início a disputa. Os encontros entre dois disputantes duram de dois a três minutos, só o tempo de um dos lutadores se estatelar de botas no chão. Este é o perdedor. A festa de Anarcan antecede a festa de Aruanã.
É uma das mais empolgantes do calendário mágico-religioso dos índios carajá. É realizada por ocasião da Lua Cheia. Dançam a noite toda. Na casa das máscaras estão todos os enfeites da dança: camisa de fibra de coqueiro e um saiote de fibras soltas.
A cabeça da máscara é enfeitada por penas de arara que aumentam o tamanho dos dançarinos. Da casa de máscaras os índios vêm para a praça, aos pares, dançando, renovando os ritos dos feitos heroicos, amorosos e dramáticos do povo carajá.
ELY CAMARGO -ARUANÃ - DANÇA DOS ÍNDIOS CARAJÁS
OS LICOCÓS – BONECOS CARAJÁ
Na
linguagem carajá, o boneco é chamado de “licocó”. As meninas aprendem a fazer os
licocós, enquanto as mães fazem a cerâmica utilitária. As mães colhem o barro cinzento na barranca
do rio. Depois o misturam com
ingredientes de origem vegetal: raízes, flores.
Trituram o barro, que depois de modelado é secado ou cozido. Sentadas
nas esteiras, tendo à sua frente o Rio Araguaia, as meninas carajá recebem as
suas primeiras lições de arte da modelagem. O tamanho médio do licocó é 20
centímetros. Os bonecos são enfeitados com colares de sementes, casas de
caracol perfuradas e um fio de borla preta.
.
A
morte tem o seus ritos que são vividos intensamente, de acordo com as crenças
de cada um.
No
interior quando uma pessoa morre, saem normalmente três pessoas para cuidar dos
preparativos do enterro: uma providencia a mortalha, a outra o atestado de óbito
e a terceira avisa, o mais longe que puder, a morte do amigo.
As
incelências são quadrinhas repetidas doze vezes, porque são doze os apóstolos.
Preparam a chegada do morto no céu.
Após o velório de uma noite toda, ao amanhecer
colocam-no na rede. Cortam uma vara de taquara e amarram a rede com embira (folhas de palmeira). Ao clarear o dia cantam a despedida do morto à família,
cada verso cita um parente que se despede:
Vamos cantar uma incelência
Do meu são Francisco
Que dê seu passaporte
Nossa Mãe Maria Santíssima
Passaporte já tenho
Feita absolvição
Para esta alma subir pra glória
Com a Virgem Conceição
Despeça da sua esposa
Até o dia do Juízo
Pra te encontrar
Na porta do Paraíso
Feita
a despedida o enterro desaparece na curva do caminho... levado na Rede.
(Manuel Amorim Felix de Souza)
Editora
Três - 1987
IMAGENS: Google
VÍDEOS: Youtube
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